Não é novidade para os leitores que a água fornecida pelos Serviços Penitenciários aos reclusos é imprópria para consumo humano na maioria das cadeias do país.
Mas na cadeia de Caboxa, na província do Bengo, o estado do líquido atingiu proporções extremas, como se pode ver nas imagens.
Anteriormente, como informaram alguns presos em Caboxa, “ainda era possível coar a água” para beber mas, nas últimas semanas, “nem com isso estamos a conseguir”, pelo que os reclusos estão mesmo a consumir a água tal como é distribuída pela direcção da cadeia, chefiada pelo superintendente-chefe Moniz.
“Esta água é a mesma que bebemos, cozinhamos e banhamos. Eles estão a matar-nos mesmo com essa água”, disse, sob anonimato, um recluso. A explicação dada pela direcção é de que “estão a fazer um trabalho na barragem das Mabubas”. Porém, os presos não acreditam nesta justificação.
“Nós conhecemos como funciona o sistema de distribuição de água aqui. A água saia directamente do rio para os tanques daqui, sem tratamento algum, mas dávamos um jeito para minimizar. Mas desde Março que a motobomba se estragou que a situação tem piorado. Esse director nunca se preocupou em arranjar o equipamento”, desabafou outro recluso.
A cantina existente no interior da comarca vende um litro e meio de água por 200 Kwanzas. “É muito cara, e somos poucos que recebemos visitas com frequência, sem falar que a própria água vendida cheira mal”, disseram.
Como é óbvio, o número de doentes aumentou assustadoramente em Caboxa. O posto médico interno não tem capacidade técnica e medicamentosa para acudir os pacientes. Alergias e infecções urinárias são as doenças mais frequentes ali registadas, conforme adiantado pelos reclusos.
“Antes era normal três a cinco reclusos irem ao posto médico diariamente, agora estamos em cerca de 10 e às vezes 15 mesmo a irem ao posto. E o pior é que lá nem tem medicamentos. Muitos já nem vão lá por saberem que não lhe darão nem um comprimido. Os reclusos que trabalham fora trazem umas folhas da mata que fervem e dão aos doentes”, contou outro preso.
Para além de má, há escassez de alimento. Segundo denunciaram, a comida não chega para todos os reclusos, pelo que uns não comem algumas vezes.
“Eles até dão duas vezes ao dia, almoço e jantar, mas nem chega para todas as pessoas, principalmente os detidos”, garantiram, e acrescentaram: “O arroz com alguns bagos de feijão é sempre o almoço, e o funge mal cozido com molho de água suja e cheiro de carne é o jantar”.
Outro problema relatado pelos reclusos é a sobrelotação na cadeia. Projectado para albergar 608 reclusos, divididos em quatro blocos, o estabelecimento prisional conta agora com mais de mil presos. As casernas dos blocos A, C e D, preparadas para acolher oito pessoas cada, estão agora com um mínimo de 15 presos.
“O bloco C está com 270, o bloco B 235 e o A tem 206, sem falar com o pessoal nas naves e nas celas solitárias. As celas aqui estão lotadas. Uns estão a dormir no chão, em algumas camas estamos a dormir duas pessoas cada. Isso está mal. Antes deste director não era assim”, lamentou um recluso.
Denunciaram também que apenas alguns condenados pelo tribunal provincial do Bengo saíram pela lei da amnistia desde a sua entrada em vigor, isto no dia 12 de Agosto.
“Ninguém de Luanda saiu ainda, e 80 ou mesmo 90 por cento dos presos aqui são provenientes de Luanda”, disse um recluso que, nos termos da lei da amnistia, cumpre os requisitos para ser colocado em liberdade.